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A MULHER NA ORGANIZADA

Atualizado: 5 de dez. de 2023

A presença das mulheres no mundo do futebol está cada vez mais evidenciado em vários âmbitos do esporte. E nos estádios não é diferente, o público feminino nas arquibancadas vem crescendo, buscando serem respeitadas e terem seu devido espaço, até mesmo nas torcidas organizadas. A gestora comercial Mariana Rodrigues, 31, fez parte da principal torcida organizada do São Paulo, a Independente, durante 15 anos. Para Mariana esse crescimento das mulheres nos estádios pode ser positivo. “Quanto mais mulheres participando, mais voz nós temos para exigir nosso lugar de fala”.




Durante o período em que esteve na torcida organizada, em duas ocasiões sofreu assédio e conta como reagiu em um desses casos, “Minha reação foi colocar ele no lugar dele, e reafirmando que eu estava ali pelo meu time e não para me beneficiar com "eles" apenas por ser mulher”. Ainda lembra que pessoas que presenciaram nada fizeram em sua defesa “os outros homens que estavam presentes não tiverem reação alguma, pois isso para eles é normal". Infelizmente para alguns homens e para a sociedade propriamente dito, nós estamos ali atrás de relacionamento ou algo do tipo e não pelo futebol, completa. Mas lembra que a maior parte dentro da organizada respeitam todas as mulheres, pois existe uma lei de conduta a ser seguida, mas sempre tem uns que passam dos limites.


As torcidas organizadas seguem suas normas de condutas e seus ideais e estabelecem regras, algumas direcionadas às mulheres. Questionada se a organizada independente estabelecia alguma regra para o público feminino, como não poder utilizar os instrumentos ou movimentar bandeirão Mariana relata” Não, mulheres podem fazer parte da bateria e tremular bandeiras”, mas em relação caravanas ainda existem restrições “ainda somos proibidas de ir em alguns jogos pelo simples fato de ser mulher”.



Atualmente, mesmo sem fazer parte da independente, Mariana lembra da importância da torcida para ela.” Era tudo, eu realmente vivia pela torcida, hoje mesmo e longe, sei que faz diferença para o time ter o apoio da organizada”. E destaca a atmosfera quando acompanhava as partidas no estádio.” A energia da organizada é algo surreal, não que a torcida comum não tenha, mas a bateria e os componentes, é outra coisa totalmente diferente que começa antes mesmo do jogo.


A violência está entre um dos fatores que fizeram com que se afastasse, mas o principal foi ver que os princípios da organizada se perderam dentro da politicagem atual.

Durante esses 15 anos, alguns momentos foram marcantes, entre bons e ruins. Quando fez sua primeira caravana, foi uma mistura de emoções e adrenalina, mas uma experiencia não muito agradável. “Eu tinha apenas 18 anos, foi uma partida contra o time do Vasco em São Januário, fiquei 5 horas dentro de um ônibus presa por conta de ameaça rival”. Mas também vivenciou momentos felizes como o nascimento de sua filha “E quando ela com 2 anos cantando os gritos da torcida, sentir o mesmo legado que meu pai sentiu, de tudo, ver minha filha amando meu time foi o que mais me marcou”. Relembra.



Arquivo pessoal


Uma pesquisa desenvolvida pela pesquisadora Carolina Morais em 2018 buscou entender a presença das mulheres nas torcidas organizadas. Com o título as torcedoras querem (poder) torcer, buscava explorar as questões fundamentais do espaço das mulheres no futebol. A motivação para realização desse projeto foi tentar se reconectar com o futebol, pois durante a sua adolescência jogou futsal, mas teve que parar de jogar devido a problemas comuns que muitas mulheres enfrentam, como a necessidade de trabalhar e a dificuldade de conciliar trabalho, estudo e treino. E assim passou a frequentar mais os estádios como torcedora sendo motivada a conectar sua trajetória e experiências em uma pesquisa. “Para mim, vivenciar a arquibancada, torcer e, naquela época, encontrar pouquíssimas mulheres fazendo o mesmo, me deixava confusa. Eu queria entender melhor o que estava acontecendo” diz Carolina.


O trabalho tem como objetivo ter um olhar para aquele cenário de uma perspectiva diferente. Mesmo enfrentando preconceito e presenciando situações de violência, entendia que sua pesquisa tinha um propósito. “Colaborar para que outras mulheres olhem para a minha experiência e se fortaleçam caso queiram se conectar com alguma torcida ou ir aos estádios. É um pouco nesse sentido” destaca a pesquisadora.


A pesquisa foi abordada com questões em duas seções principais. Na seção intitulada "Em um futebol que é de todos, qual o espaço delas?", mostra como as mulheres continuam a luta contra o machismo e preconceitos de gênero no futebol, mesmo sendo um esporte considerado para todos. Para Carolina as mulheres enfrentam desafios para serem aceitas nesse ambiente. “Destaquei como o futebol é visto como um espaço de expressão da masculinidade onde atitudes normalmente reprovadas na sociedade são aceitas e até encorajadas nos estádios.”


A segunda seção tem a temática "Torcer, Torcida e Torcedora" que explorou a relação complexa das mulheres com seus clubes e torcidas organizadas. Com o argumento de que as torcedoras estão engajadas em um processo contínuo e desafiador de negociação para reivindicar seu lugar no futebol. E que apesar dos desafios e da resistência, a presença feminina nas torcidas é um ato de resistência e coragem, desafiando as normas de gênero e mostrando como as torcedoras estão redefinindo o significado de ser uma fã de futebol, enfrentando estereótipos e preconceitos, e lutando por um espaço que também lhes pertence, ressalta Carolina.


A mensagem transmitida pela pesquisa tem como destaque a luta contínua das mulheres no futebol. Em uma cultura dominada pelo público masculino as mulheres estão desafiando, reivindicando e moldando seu próprio espaço neste ambiente. próprio espaço neste ambiente.


A pesquisadora Carolina Morais enfatiza a importância de reconhecer e valorizar a presença feminina no futebol, não só como uma questão de igualdade de gênero, mas também como uma contribuição essencial para a diversidade e riqueza cultural do esporte.

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