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A TORCIDA PODE SALVAR UMA VIDA

Atualizado: 4 de dez. de 2023




A torcida pode salvar uma vida? É meio curioso ver algo nesse sentido. As torcidas organizadas são bastante conhecidas por toda a sua violência, mas salvar uma vida é meio curioso. Márcio Souza é torcedor do Santos desde que se entende por gente.

 


Arquivo Pessoal


“O Santos surgiu na vida do meu pai quando ele viu aquele Santos de 1980, não era uma das melhores equipes, mas o Santos sempre foi Santos. E quando eu nasci lá em 95, o meu pai fez uma promessa que se o Santos chegasse no final daquele ano, eu nasceria santista, bom aí foi.”

 

Seu pai, Neto Felipe, sempre foi uma referência em sua vida, tanto como um homem honesto, como pai também. O Santos foi uma grande base de relacionamento entre pai e filho. Mas um câncer em 2005 acabou encerrando sua história.

 

“Para muitos, levar seu filho no parquinho era normal, para mim o normal era ir para a Vila Belmiro, aquele lugar sempre foi mágico para mim, entrar lá era incrível como é até hoje. Na vila, eu aprendi e vi muita coisa, ser um homem de 8 anos em meio à torcida jovem, nossa é arrepiante, aquela torcida sempre mexeu comigo. Quando meu pai faleceu, meu mundo não fazia mais sentido, até o Santos não fazia mais sentido. Eu fiquei muito decepcionado, parece que depois de meu pai falecer, o Santos naquela época começou a desandar. Eu estava no lixo totalmente.”

 

Naquele momento de luto, as drogas eram um caminho mais fácil.

 

“As drogas me acalmavam, eu queria sumir por muito tempo, morei na rua por 1 ano, minha família se preocupava comigo, mas eu não ligava, imagina um garoto de 17 anos sozinho na rua. Eu via minha vida sem solução.”

Nesse período de fragilidade e medo, os valores ensinados pelo pai falecido não valiam de nada naquele momento, vivendo sem sentido, e andando pelas ruas de Santos, em uma noite movimentada no bairro do Canal 2, Marcio percebeu que aquela movimentação era diferente.

 

Arquivo Pessoal


“A última vez que vi uma movimentação grande como aquela foi na morte do rei Pelé, que foi nesse ano. O Santos estava vivendo uma fase mágica em 2010, voando na Copa do Brasil, e os meninos da Vila a cada jogo decidindo, era incrível. E quando eu passei próximo ao Canal 2 e vi aquela multidão, logo lembrei da sede da torcida Jovem, e fui passar como quem não quer nada. Quando passei lá, o falecido Cosmo Damião estava na frente de lá resolvendo coisas dos instrumentos; quando ele me viu no estado em que eu estava, nem acreditou.”

 

Sabendo que ele era filho de um torcedor e amigo, ele se sentiu na obrigação de ajudá-lo, com trabalhos básicos. No entanto, um dos grandes problemas que Márcio ainda enfrentava era com as drogas; trabalho não sacia a vontade de usá-las. Isso continuou até o momento em que Márcio contraiu uma grande dívida por conta do consumo elevado de drogas.

 

“Eu entrei num período em que eu tinha que consumir droga todos os dias. Por mais que eu trabalhasse e não estivesse mais morando na rua, eu tinha que viver com as drogas. Muitas pessoas não vivem sem café, esse era eu com as drogas. E, por conta do meu grande consumo, eu tinha que fazer de tudo para usá-la. Qualquer moeda que entrava, era para uma droga. E teve um dia que a vontade estava tão grande que eu pedi uma quantidade a mais que eu não tinha como pagar naquele momento, só que até aí eu achei que o pessoal tinha esquecido, pois foi aí que eu me enganei.”

 

Por conta da grande dívida e não saber o que fazer, Marcio passou por várias fórmulas para resolver: tentar conversar, arrumar dinheiro emprestado, pensar em suicídio e a forma mais provável que iria fazer, fugir.

 

“Meu desespero era tão grande que eu fiquei tão nervoso, tão nervoso, que eu precisava ir embora, precisava fazer qualquer coisa. E quando eu entrei no ônibus da torcida jovem para fugir, o seu Cosmo me viu desesperado e perguntou qual era a situação. E daí em diante a minha solução era ficar por Minas porque o jogo era em Belo Horizonte, ou ir para bem longe. Aí foi quando o seu Cosmo falou para me acalmar e disse que já estava tudo resolvido. Ali eu vi que a torcida me salva, o Santos me salvou. Eu devo toda a torcida jovem do Santos. Se eu estou viva, graças à torcida. Quando cheguei em Santos, a minha preocupação já tinha acabado, mas me deixaram recado: se eu saísse da torcida e voltasse a fazer algo errado, eles iam resolver. E eu estou aí vivo há 13 anos e nunca mais vou fazer o que eu fazia antes.”

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